Vamos falar sobre a
sexualidade na vida dos portadores de parkinson?
Se pensarmos em sexo
como sendo apenas o ato sexual penetração/orgasmo, a abordagem do
tema torna-se isenta de sentido. A questão é delicada, pois há
várias possibilidades de abordar o tema, e variam conforme a
cultura, educação recebida, personalidade e crenças de cada um.
O impacto da doença de
parkinson (dp) na saúde sexual é ainda um tabu.
O esclarecimento de
dúvidas afasta os estigmas e evita conflitos internos provenientes
das instabilidades posturais e emocionais. Já a informação
esclarecedora traz uma experiência positiva e saudável.
Fadiga associada com
parkinson pode reduzir a libido. A lentidão do movimento, tremor,
rigidez interferem nos aspectos práticos da vida amorosa.
O homem pode ter
problemas em ter ou manter uma ereção ou não ser capaz de
ejacular. Atraso no orgasmo e ejaculação são causas comuns de
considerável frustração sexual. A mulher pode sentir secura
vaginal. Atingir o orgasmo pode ser difícil. As mulheres com dp
sentem uma alteração na qualidade do orgasmo. A tensão sexual não
atinge um pico, mas vários pontos elevados, seguidos por um declínio
repentino.
Outros problemas podem
surgir, se o casal não fizer mudanças em sua rotina diária e
comportamentos sexuais.
A disfunção sexual
pode ser tratada medicamente. Alguns medicamentos podem estimular a
ereção, enquanto medicamentos de estrogênio ou solúveis em água,
lubrificantes pode aliviar a secura vaginal.
Uma relação sexual
satisfatória revela muito mais do que a capacidade de ter ereções
ou atingir orgasmos. A má qualidade do relacionamento de um casal
pode contribuir, por si só, para a presença de disfunções
sexuais.
Parceiros em que um
deles tem dp podem apresentar diversos problemas sexuais. Contudo com
diálogo claro, atenção e ajuda profissional é possível conseguir
uma vida afetiva/sexual com muito prazer.
Estudos mostram que o
sexo traz benefícios para a saúde, como por exemplo queima de
calorias, diminuição
dos riscos de infarto,
relaxamento da musculatura e melhoria o humor.
Vários autores apontam
a necessidade de intimidade e a expressão sexual como dimensões
importantes da qualidade de vida das pessoas, e não é diferente com
os portadores de dp. Uma vida sexual satisfatória é uma forma de se
sentir “normal” quando todos os aspectos de vida diária estão
se modificando.
Há mudanças normais
das funções sexuais próprias do envelhecimento, como por exemplo:
certa diminuição de resposta aos estímulos. Assim as preliminares
são essenciais. Na minha opinião é na verdade a parte mais
importante da relação sexual. As
preliminares
diminuem a inibição e aumentam o conforto emocional. O prazer não
se restringe ao orgasmo, mas sim a toda troca de carinho que cada um
dos parceiros pode dar ao outro. Percorrer o caminho para chegar até
o objetivo esperado pode ser até mais prazeroso que atingi-lo. O ato
sexual não pode ser resumido apenas na penetração, que é apenas
uma das muitas formas de se chegar à satisfação desejada. Não
pode haver pressa. O afeto, a contemplação, a partilha são
fundamentais, onde os sentimentos são bem estabelecidos e há
confiança mútua.
Mudar o foco, valorizar
outros aspectos da relação pode trazer descobertas bem excitantes,
do próprio corpo e do corpo do parceiro/a.
Os casais com dp
vivenciam uma marcada redução nas expressões físicas e
emocionais. A redução da frequência do toque íntimo tem um efeito
negativo na autoestima e aumenta a tensão entre o casal.
Inversamente, a restauração da intimidade melhora
significativamente o relacionamento do casal.
Conversando, com alguns
médicos e profissionais da saúde, a respeito das minhas vivências
em relação à sexualidade e o parkinson, constatei a
falta de interesse ou despreparo, o que dificulta ainda mais a
orientação sobre o assunto. É comum que familiares e profissionais
de saúde pensem que nessa situação o indivíduo não está
sexualmente ativo.
Um neurologista que
consultei há 4 anos, espantou-se quando eu relatei que aos 48 anos
eu tinha um namorado e era sexualmente ativa. Existe preconceito e
desinformação, primeiro ao pensar em quem escolheria iniciar uma
relação em idade madura com um portador de doença limitante como é
o parkinson, e segundo por não entender como o portador de dp possa
mostrar-se atraente, sentir-se desejável e estar sexualmente ativo.
Mas como eu posso
definir “sexualidade”? A “sexualidade”
é um termo abrangente e eu não encontro definição única e
precisa.
Não sou expert no
assunto. As colocações feitas aqui são opiniões e vivências
pessoais, expostas na tentativa de esclarecer algumas dúvidas e
também busca ajudar outros portadores de dp a romper alguns tabus.
A noção de
sexualidade, para mim, começa pelos cuidados com o próprio corpo,
com autoestima, amor próprio. Somente depois é compartilhada com o
outro através do sexo. É também uma
energia motivadora do contato físico e maior intimidade, que procura
encontrar prazer
na descoberta das sensações, na expressão emocional, na atração
por outras pessoas (de sexo oposto e/ou mesmo sexo).
Para que se tenha um
relacionamento saudável é necessário superar as dificuldades do
enfrentamento da doença, para manter uma relação de aceitação da
própria sexualidade e das limitações decorrentes da dp.
Há um conceito ou
preconceito que pessoas idosas ou com necessidades especiais não são
fisicamente atraentes, que não mantêm interesses por sexo ou são
sentem nenhum estímulo sexual, o que acaba gerando atitude negativa
no que se refere ao sexo.
Se não houver ajuda de
um profissional interessado e competente, um diálogo aberto,
compreensão e comprometimento dos parceiros em descobrir juntos qual
a melhor posição, as carícias mais satisfatórias, o que mais
agrada ou desagrada, não haverá soluções que possam retirar os
obstáculos que se apresentam ao longo do tempo.
Explorar e praticar
diferentes posições mais confortáveis; encontrar novas soluções
para estimulação física; adotar novos papéis sexuais de acordo
com a habilidades de cada parceiro.
A prática de outros
estímulos, a exemplo do uso “brinquedos sexuais”, fantasias,
filmes eróticos ou sexo oral, pode ser extremamente agradável.
Importante
é saber o quanto os parceiros estão ou não comprometidos em
explorar a sexualidade e aceitar as mudanças, certamente sempre com
diálogo bem transparente e franco.
Experiência com
rotinas diferentes, por exemplo, procurar fazer amor, quando os
sintomas do parkinson são menos pronunciados, quando a rigidez
muscular e os tremores são mais brandos, também traz maior
proximidade aos parceiros.
O acordo e a unidade de
ideias tornam legítima e prazerosa a relação. Eu não acredito no
sexo pelo prazer físico, também não acredito que o orgasmo seja a
finalidade do sexo. Uma relação sexual deve estar envolta em
encantamento e admiração. A celulite nas coxas de uma mulher
torna-se insignificante se confrntada com um abraço aconchegante,
perfumado, cheio de chamego. A barriga mais avantajada de um homem
não tem nenhuma importância diante de um olhar afetuoso e sedutoras
carícias.
Não
existe idade determinada para o término da sexualidade. O interesse
e o desejo da capacidade de sentir prazer podem permanecer até o fim
da vida. O que pode mudar é a forma de expressar esse desejo. As
mudanças acontecem ao longo da vida de qualquer pessoa. Para
portadores de dp as mudanças são mais evidentes e exige muita
compreensão do parceiro/a. O segredo de um bom relacionamento e de
sexo com qualidade na dp é saber adaptar-se com criatividade às
transformações e instabilidades que vão ocorrendo.
A troca de informação
é o melhor remédio para todos os tipos de problemas de
relacionamento, com ou sem parkinson. Uma conversa transparente sobre
as necessidades sexuais de cada um é extremamente favorável.
Se não for possível
ao casal superar as dificuldades que vão surgindo com o tempo e
agravamento da doença, torna-se importante buscar ajuda de um
conselheiro formado em saúde sexual, para encaminhamento em qualquer
tipo de dificuldade sexual, (neurologista, urologista ou
ginecologista, ou fisioterapeuta).
Sexo bom e gostoso tem
que ser temperado com muito amor, carinho e atenção!
Abraços, *TT.
Lembrete:
Converse abertamente com seu médico se você está preocupado/a com
o estado de sua saúde, sexualidade, tratamento ou relação sexual
e sobre as opções de tratamento para a depressão. Eu já passei
por isso e creio plenamente que é possível superá-la.