TEMPO PERDIDO
Além dos resultados de seu trabalho em laboratório, o cientista brasileiro merece ser ouvido também pela advertência que faz em relação à Lei de Biossegurança, que ainda está no Senado, depois de aprovada pela Comissão de Educação. Ele alerta para o risco de o Brasil ficar para trás, sem liberdade e incentivo à pesquisa. “Vejo, no futuro, todo mundo comprando remédio derivado de célula embrionária e clonada da China, por exemplo, que está abrindo pesquisas na área”, diz Muotri.
A possibilidade de clonagem é importante para evitar rejeição (porque nesse caso seriam usadas células do próprio paciente), e o uso de células-tronco embrionárias, como é praticamente consenso entre os pesquisadores, é bem mais promissor que as de adultos, pela maior plasticidade que elas apresentam. Nos dois casos, portanto, é essencial abrir caminho para as pesquisas, em vez de se criar obstáculos.
Para isso, é preciso resistir aos lobbies evangélicos e outros, que mais de uma vez demonstraram no Congresso seu poder de fogo e que são radicalmente contra a utilização de embriões humanos — mesmo aqueles que são descartados às centenas em clínicas de fertilidade.
Recentemente, os opositores da pesquisa passaram a usar o argumento de que é enganoso falar do uso de células-tronco como se o tratamento do mal de Alzheimer e de Parkinson e outras doenças estivesse ao alcance da mão. É verdade: ainda há um caminho muito longo a percorrer. Mas, por isso mesmo, não há tempo a perder. Ao Congresso cabe agora proporcionar à ciência brasileira, que mais uma vez demonstrou sua competência, os instrumentos e a liberdade para progredir. Jornal: O GLOBO, Editoria: Opinião, Página: 6, Primeiro Caderno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observamos que muitos comentários são postados e não exibidos. Certifique-se que seu comentário foi postado com a alteração da expressão "Nenhum comentário" no rodapé. Antes de reenviar faça um refresh. Se ainda não postado (alterado o n.o), use o quadro MENSAGENS da coluna da direita. Grato.