quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O VENTO DISPERSAVA AS MARCAS DAS SANDÁLIAS
Rogério Martins Simões

O tempo gasta as estradas…
Alisa os caminhos
Varre as pegadas
- A sua bênção - minha mãe!

Peguei na enxada e cavei um rego.
É tarde e tenho águas por deitar…
Atrelo ao meu olhar que avança,
As levadas do desassossego…

- Que magrinho está o nosso filho!
A candura perdura quando os visito!
- Não tremas!, ainda te vais curar!

Agarrei no pensamento
e consegui debutar nas bolhas da lembrança
(Não tenho artroses no pensamento)
Mas o poço secou lentamente
E os matos tomaram conta de mim…

Atrelei-me ao olhar
Recordei o sorriso traquina de criança
Retomei o trilho
e lá vou eu a caminho da horta distante…

Os meus pezitos tocavam ao de leve nos caminhos,
Vinha o vento!,
E dispersava as marcas das sandálias.


O tempo varre as estradas,
Alisa os caminhos e apaga as pegadas…
Peguei na enxada e cavei um rego.
Tão tarde!, já não tenho as águas em sossego…
Ainda, assim, não perdi nas orvalhadas,
Que debutam nas bolhas da lembrança.
E o cheiro da urze e do jasmim
E com palavras ditas assim
Retomam, em mim, um milho de esperança:

- Que lindo está hoje o nosso filho!
A candura perdura quando os visito!
- Não temas!, ainda te vais curar!

Recuperei o trilho e lá vou eu
A caminho da horta distante
Com a fé para reencontrar
Na sombra que avança
Os meus pezitos que tocavam
Ao de leve nos caminhos da lembrança:

Quando o vento vinha
e dispersava as marcas das sandálias…
Lisboa, 07-11-2008 0:15:00

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