segunda-feira, 30 de julho de 2012

Testes genéticos e prontuário automatizado indicam os melhores medicamentos para cada paciente

28/07/12 - A saia justa que fica elegante em umas e desastrosa em outras. Ou o prato apimentado indiano que só poucos suportam? Eles têm tudo a ver com características pessoais. Remédios também. Não com fatores evidentes como formato do corpo ou paladar. Mas com ínfimas variações no DNA, que podem se tornar questão de vida e morte em doenças graves. Uma droga que funciona para o seu amigo pode ser tóxica ou ineficaz para você. Essas variações são foco de um instrumento avançado da medicina, até há pouco tempo restrito à ficção científica, que semana passada chegou ao Sistema Único de Saúde (SUS). Bem-vindo ao mundo da farmacogenética, área de nome grande e promessas maiores ainda.

Tema de um encontro internacional de cientistas mês passado no Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio, a farmacogenética está por trás da ciência que produziu a droga contra o câncer de mama caríssima e eficaz para 15% das pacientes e que será distribuída pelo SUS. Ineficaz para a maioria, ela salva vidas se dada à mulher certa. É uma parte da medicina que começa aos poucos a entrar na prática clinica e dar forma a receitas eletrônicas. Prescrições automatizadas de medicamentos baseadas não só no diagnóstico do paciente e no histórico familiar, como no cruzamento de dados genéticos dessa pessoa com as caracteristicas dos medicamentos.

Pulo do gato da medicina cotidiana
Assim como as roupas, os remédios não se adequam da mesma forma em todo mundo. Funcionam bem para uns, são razoáveis para muitos e perigosos para um certo grupo de desafortunados. É uma loteria genética cujo resultado pode ser antecipado não por bolas de cristal, mas por análises de marcas específicas no DNA.

— A farmacogenética espera dizer se uma droga é adequada para um paciente e a dosagem em que deve ser administrada — explica o chefe do Programa de Farmacologia do Inca e coordenador da Rede Nacional de Farmacogenômica, Guilherme Kurtz, organizador do evento no Rio e um dos pioneiros do estudo da farmacogenética no Brasil. (...)

Essa é uma das estratégias da farmacogenética. Outra é descobrir como os remédios existentes funcionam em cada pessoa, para a prescrição da dose correta. Variações genéticas não são as únicas responsáveis pela forma como um paciente reage a um medicamento. Fatores ambientais, gravidade da doença, idade, tabagismo, enfim, uma série de elementos precisa ser considerada. Mas para alguns remédios o componente genético pesa mais para eficiência e risco de efeitos colaterais. A lista (acima, nesta página) da FDA tem drogas desse tipo.

Guilherme Kurtz salienta que o tratamento de cânceres e doenças cardiológicas, neurológicas, infecciosas e hematológicas será beneficiado por essa tecnologia, que ainda evolui nos laboratórios de centros de pesquisa mas já produz resultados que podem melhorar a medicina.

— Não serão todas as drogas, mas para algumas a farmacogenética fará grande diferença. A prescrição eletrônica será um verdadeiro pulo do gato — frisa ele.

Nenhuma droga contra a tuberculose está na lista da FDA. Mas para Mara Hutz, professora titular do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma deveria estar. É a Isoniazida, uma das mais usadas. Pessoas que têm a chamada variante lenta do gene NAT2 metabolizam mais devagar o remédio e, por isso, sofrem complicações no fígado, que podem ser muito graves. O problema é que a variante lenta é comum. Se testes genéticos específicos fossem usados regularmente, o tratamento poderia melhorar.

— Ao identificar as pessoas com a forma lenta, aumentaríamos a aderência dos pacientes ao tratamento e o risco de surgimento de tuberculose resistente. O teste custa relativamente barato, cerca de R$ 150, e pode ter grande impacto positivo — diz Mara Hutz, cujo grupo começou a estudar a aplicação da farmacogenética no mal de Parkinson e na malária. (segue...) Fonte: Extra O Globo G1.

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