segunda-feira, 18 de março de 2013

Quando os dedos não vão

por Suzana Herculano-Houzel.
12/03/2013 - Se você não aprendeu nada de radicalmente novo nos últimos tempos, recomendo fortemente a experiência.

Não porque "aprender mantém o cérebro vivo", lema da tal da Neuróbica (ginástica para o cérebro). Como se aprender a escovar os dentes com a outra mão fosse mudar sua qualidade de vida sem que você tivesse quebrado a mão de sempre.

Mas como um experimento: para ter uma ideia de como é para um bebê ou uma criança pequena conquistar o controle dos dedos.

A enorme maioria do que fazemos hoje com as mãos é formada de movimentos muito bem aprendidos e repetidos anos a fio, levados à perfeição pelo simples hábito.
Isso não quer dizer, contudo, que seu repertório de movimentos possíveis acabou.

Pelo contrário: o número de graus de liberdade de movimentos dos dedos e das mãos é enorme, e o número de combinações possíveis, maior ainda -e, para muitos deles, ainda não há um programa motor pronto em seu cérebro. Mas qualquer hora é hora de aprender.

E então vem aquela sensação que todo adulto deveria sentir na carne, no próprio cérebro, para apreciar o esforço de quem está começando.

Uma sensação que toda pessoa alfabetizada já teve, mas se esqueceu: a sensação de que os dedos "não vão" quando você tenta comandar o lápis com a mão.

É uma sensação de nó cerebral, empacamento, enquanto dá para imaginar neurônios do córtex motor e dos núcleos da base disparando ordens a torto e a direito em busca da combinação mágica de comandos que fará os dedos atingirem seu objetivo.

Gosto de ilustrar isso para professores do ensino fundamental propondo-lhes que desenhem uma estrela vendo somente uma imagem no espelho de sua mão segurando o lápis sobre o papel.

Isso inverte todas as correspondências aprendidas ao longo da vida entre a visão da sua mão e as ordens motoras necessárias para desenhar. Os professores voltam à infância e começam a rir -ou a gritar em exasperação- quando constatam que seu cérebro empacou. Os seus dedos "não vão". Até que... vão. Dada a oportunidade, seu cérebro encontra o caminho, por tentativa e erro, mesmo.

Lembrei-me disso na semana passada, em minha primeira aula oficial de violão clássico, pois queria aprender dedilhado e ir além dos acordes fáceis do meu violão popular autodidata. Meu cérebro empacou na aula. Mas, com um pouco de insistência, a sensação da conquista dos meus dedos é maravilhosa. Fonte: Folha de S.Paulo.
Uma pena. Para mim, agora, a Inês é morta! Creio que os ambidestros tem o cérebro mais protegido.

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