terça-feira, 23 de abril de 2013

PET/CT: Atividade da micróglia na Doença de Parkinson indica Demência?

por *Luiz Alexandre V. Magno

22 APRIL 2013 - A doença de Parkinson (DP; ou mal de Parkinson) é uma doença crônica e progressiva do movimento devido à disfunção dos neurônios produtores de dopamina localizados nos gânglios da base cerebral, os quais regulam a transmissão dos comandos conscientes vindos do córtex cerebral para os músculos do corpo humano. Classicamente, a DP é caracterizada clinicamente por três alterações motoras: tremor de repouso, bradicinesia (início vagaroso dos movimentose) e rigidez. No entanto, a comunidade científica tem revelado recentemente novas características clínicas da doença. Uma das mais proeminentes é que a DP não é meramente uma doença de ordem motora. Por exemplo, cerca de 80% dos pacientes que sobrevivem por pelo menos 20 anos com a doença desenvolvem algum tipo de demência. A demência no paciente com Parkinson (também referida como Parkinson’s disease dementia ou PDD) é caracterizada principalmente por déficits na memória de curto prazo, atenção e em funções executivas e visoespaciais.

Infelizmente, as alterações patológicas a nível cerebral que aumentam a susceptibilidade do paciente com DP ao aparecimento simultâneo de demência ainda permanecem desconhecidas. Sobre este aspecto, uma hipótese recém sugerida é que as células microgliais estão anormalmente ativadas no paciente DP, o que pode levar ao desenvolvimento de um estado de inflamação crônica no cérebro ou neuroinflamação. Normalmente, a micróglia desempenha a importante função de defesa imunológica dos neurônios contra patógenos invasores. Porém, a ativação crônica da micróglia também pode levar a lesão progressiva do tecido cerebral devido a intensa produção e liberação de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, citocinas e quimiocinas por estas células. O aumento da expressão da proteína TSPO é um dos parâmetros para medir o nível relativo de ativação da microglial. A expressão da TSPO no cérebro humano pode ser realizada través de PET (tomografia de emissão de pósitrons) utilizando o marcador [11C](R)PK11195.

Recentemente, pesquisadores do Imperial College London (Reino Unido) (1) compararam o nível de ativação da micróglia entre pacientes portadores da doença de Parkinson que progrediram ou não à demência e indivíduos saudáveis (grupos PD, PDD, saudáveis, respectivamente). Além do estudo sobre a micróglia, o grupo de pesquisadores também avaliou os níveis da proteína beta-amilóide e o metabolismo de glicose através de PET (utilizando os marcadores [11C]PIB e [18F]FDG, respectivamente). Os autores do estudo encontraram um aumento significativo da ativação da micróglia nos cíngulos anterior e posterior, estriado, e nos córtices frontal, parietal, temporal e occipital de pacientes PDD em comparação com os sujeitos saudáveis (Figura 1). Embora menos pronunciado que os indivíduos PDD, os pacientes PD também apresentaram um aumento estatisticamente significativo na ativação da micróglia nos córtices parietal, temporal e occipital. Ambos PDD e PD possuíram uma redução no metabolismo de glicose no cíngulo posterior e córtices temporal, parietal e occipital. Assim como para o nível de ativação de micróglia, a redução do metabolismo de glicose foi relativamente mais pronunciada em pacientes PDD em comparação com os PD. Pacientes PDD e PD demonstraram apenas um aumento marginal da expressão da proteína beta-amilóide em comparação com o grupo saudável.

Por enquanto,  nenhum tratamento eficaz está disponível para evitar a progressão da PDD. Para uma estratégia de tratamento eficaz, é importante entender, por exemplo, o impacto da neuroinflamação sobre a função cerebral e os aspectos clínicos da doença. Os resultados deste estudo corroboram que, de fato, a ativação da micróglia pode desempenhar uma proeminente função na patologia da DP. Importantemente, as alterações observadas parecem ser restritas a determinadas regiões cerebrais. Este achado pode ser amplamente explorado no intuito de desmascarar a relevância da ativação focal da micróglia na DP. Como os autores encontraram que tal aumento de ativação microglial ocorreu de forma significativa em pacientes com ou sem demência, isto pode sugerir que a neuroinflamação pode ser um fenômeno precoce na DP que pode surgir mesmo antes do início da demência e persistir com o avanço da doença. Desta forma, a medida de ativação de micróglia não seria um parâmetro específico o suficiente para predição de desenvolvimento de Demência associada a DP. Apesar da ativação da micróglia induzir a liberação de uma variedade de citocinas, tais como TNFa, IL1, IL2, IL6, e NO, ainda não está claro se essas substâncias podem estar envolvidas na lesão celular e degeneração neuronal ou podem atuar como fatores de regeneração neuronal. Em razão disso, a neuroinflamação tem sido alvo de estudo do INCT de Medicina Molecular (conheça nosso grupo de pesquisa em Marcadores Biológicos Periféricos em Neuropsiquiatria) e recentemente nossos pesquisadores publicaram um estudo sobre o tema (2) que vale muito a pena ler.
*Luiz Alexandre V. Magno é Pós-Doutor do INCT de Medicina Molecular

 Fonte: Medicina UFMG.

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