quarta-feira, 24 de julho de 2013

DNA contém "relógio" do envelhecimento, dizem pesquisadores

Partes móveis do relógio são marcas químicas que controlam atividade dos genes nas células
Ampulheta nas veias

24/07/2013 | O quão rápido você envelhece?

Não procure calculadoras online de "idade biológica" em busca de resposta. Elas se concentram principalmente em fatores de risco para doenças e pouco dizem acerca do envelhecimento normal, o processo lento e misterioso que transforma crianças em coroas.

Na verdade, os cientistas ainda estão caçando marcadores biológicos da idade que sejam registros confiáveis da velocidade com que o processo transcorre. Candidatos aparentemente óbvios não servem. As rugas, por exemplo, costumam ter mais a ver com a exposição ao sol do que com o passar dos anos. Indicadores como aumentos relacionados à idade na pressão sanguínea são igualmente problemáticos, sendo muitas vezes confundidos por fatores não relacionados ao envelhecimento.

Recentemente, no entanto, pesquisadores identificaram marcadores particularmente bons da cobrança efetuada pelo tempo, em grande medida escondidos nos nossos organismos, e a velocidade com que estão aumentando. Desenvolver uma "forma fácil de medir a idade biológica terá uma ampla gama de aplicações na previsão e prevenção de enfermidades ligadas à idade, descoberta de drogas e medicina legal", afirma o Dr. Kang Zhang, diretor fundador do Instituto de Medicina Genômica da Universidade da Califórnia, campus de San Diego.

A busca por biomarcadores verdadeiramente reveladores do envelhecimento poderia nos dizer bastante sobre nossa saúde presente e futura. Acompanhar esses índices antes e depois de começar uma nova dieta ou programa de exercícios, por exemplo, pode mostrar se a atividade desencadeou nosso declínio e queda. Exames do índice de envelhecimento poderiam ajudar os cientistas a avaliar possíveis compostos contra esse processo em humanos sem a necessidade de estudos longos demais.

Geralmente, os especialistas em envelhecimento concordam que biomarcadores aceitáveis desse processo deveriam prever o período de vida remanescente de uma pessoa de meia-idade de maneira mais exata do que faz a idade cronológica. Além do mais, eles ofereceriam um retrato consistente da idade biológica, assegurou o Dr. Richard A. Miller, gerontólogo da Universidade do Michigan.

- Será que os cinquentões com a melhor retenção da função imunológica também tendem a ter menos cataratas, bom olfato, menos osteoporose, pressão mais baixa e memória melhor? - questiona Miller.

Os biomarcadores propostos para o envelhecimento ainda não venceram de modo convincente esses obstáculos, acrescentou ele. Contudo, surgiram alguns provocativamente reveladores.

Em um estudo de 2010, Miller e colegas analisaram registros médicos de 4.097 mulheres coletados ao longo de duas décadas, a partir de quando estavam com 60 anos, para separar 13 fatores que melhor previssem a mortalidade futura por causas diferentes. Estranhamente, a sensibilidade ao contraste – mensurada pelo exame da capacidade do olho captar imagens sombreadas bastante iluminadas contra panos de fundo brancos – estava entre os mais preditivos dos 377 fatores avaliados, bem como o número de vezes que as pacientes subiam em uma plataforma baixa em dez segundos. De acordo com a conclusão do estudo, em conjunto, os 13 fatores "caracterizam a apresentação clínica do envelhecimento saudável" em mulheres idosas.

Mais recentemente, novas tecnologias que podem detectar milhares de modificações moleculares nas células associadas à idade se destacaram na caçada pelo biomarcador.

Este ano, Zhang e colegas de San Diego relataram que um tipo de relógio molecular do envelhecimento está embutido em nosso genoma cuja velocidade pode ser medida pelo exame de sangue. As partes móveis do relógio são as marcas químicas em moléculas de DNA que controlam se os genes estão ativos nas células. Os pesquisadores concluíram que os padrões das marcas, ditos marcadores epigenéticos, mudam previsivelmente com a idade. Em um estudo publicado em janeiro em "Molecular Cell", os cientistas examinaram aproximadamente 485 mil dessas marcas em células sanguíneas de 656 pessoas com idades entre 19 e 101 anos. Segundo os cientistas, 70.387 previam a idade cronológica.

Coletivamente, essas marcas soletram uma "assinatura para a idade" que "basicamente não é alterada por doença ou etnia", disse Ronald Kohanski, perito em biomarcadores do envelhecimento do Instituto Nacional de Envelhecimento.

Dos marcadores, os 71 mais indicativos da idade cronológica foram selecionados para medir a velocidade com que as pessoas envelhecem. O cálculo foi feito pela comparação das marcas epigenéticas de um paciente com o padrão de sua idade – por exemplo, um quarentão cujo padrão lembrasse os típicos cinquentões aparentaria estar envelhecendo 25 por cento mais rápido do que o normal.

Já o relógio molecular produziu descobertas interessantes. Segundo os cientistas, os homens parecem envelhecer em média quatro por cento mais rápido do que as mulheres, o que pode explicar em grande medida por que a expectativa de vida das mulheres ultrapassa a dos homens em seis por cento em âmbito mundial. A pesquisa lançou uma luz intrigante sobre o câncer: o relógio indicou que as células tumorais envelhecem, em média, 40 por cento mais velozmente do que as normais tiradas do mesmo paciente.

- Ainda estamos longe de ter um diagnóstico para o envelhecimento biológico - reconhece Trey Ideker, chefe de genética da Universidade da Califórnia, campus de San Diego, e um dos autores do estudo, ao lado de Zhang. - Todavia, isso abre a porta a uma nova abordagem empolgante do problema.

Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, campus de Chapel Hill, implantaram recentemente um gene de vaga-lume em camundongos, produzindo animais cujas células acendem enquanto envelhecem e se tornam senescentes, perdendo a capacidade de se dividir e renovar o tecido danificado. A perda está ligada a doenças vinculadas ao envelhecimento em muitas espécies, incluindo enfermidades degenerativas e massa muscular em declínio. De modo surpreendente, os níveis de maior brilho não estavam estritamente ligados à longevidade nos animais, sugerindo que o envelhecimento celular simplesmente faz parte do quebra-cabeça maior do envelhecimento. Os cientistas também descobriram que células normais localizadas perto de tumores em nascimento emitiam um brilho notavelmente forte; o câncer de primeira fase parece desencadear pontos de calor do envelhecimento celular acelerado.

Isto é, "nós literalmente podemos ver os estágios moleculares iniciais do câncer" se desdobrando nos camundongos, declarou o Dr. Norman E. Sharpless, professor de medicina e genética da Universidade da Carolina do Norte que chefiou o estudo, publicado em janeiro na Cell, revista especializada em medicina.

Se esta pesquisa contínua for bem-sucedida, exames da taxa de envelhecimento podem um dia ser padrão no check-up anual, e acompanhar os resultados ao longo do tempo ofereceria indicações sem precedentes em relação aos riscos de saúde. Porém, tais testes também podem muito bem provocar questões problemáticas de privacidade e igualdade social.

As seguradores podem exigir que os consumidores os façam para definir o prêmio pela vida e políticas de tratamento de saúde. Os exames também podem revelar como e quanto fatores como a exposição a toxinas ambientais e o estresse pela perda de emprego aceleram o envelhecimento – um material e tanto para ações judiciais.

Algumas pessoas serão "menos afortunadas", com vidas relativamente curtas e envelhecimento acelerado; outros serão "mais afortunados", com vida longa e envelhecimento lento, previu John K. Davis, professor de filosofia da Universidade Estadual da Califórnia, campus de Fullerton. A discriminação por idade ganhará um sentido completamente novo. Fonte: Zero Hora.

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