sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Cientistas conseguem transformar memórias ruins em boas

Sem mágoas
Ao ativar artificialmente alguns circuitos do cérebro de camundongos, pesquisadores provaram ser possível transformar uma lembrança desagradável em um sentimento mais positivo

por Luísa Martins
28/08/2014 | As boas recordações daquela lua-de-mel em uma praia paradisíaca podem ganhar novos – e piores – adjetivos à medida em que transcorrem o tempo e os infortúnios da vida, como uma separação traumática, por exemplo. Mas há esperanças em um futuro em que o cérebro humano consiga desativar os dissabores e permitir uma existência livre de mágoas. Cientistas descobriram como converter lembranças negativas em positivas, jogando luz aos processos de formação e transformação das memórias emocionais.

O experimento, cujos resultados foram publicados na revista científica Nature, esclarece esta espécie de maleabilidade da memória. A técnica utilizada em camundongos – e ainda inaplicável a humanos – foi a da optogenética, ramo da neurociência que manipula neurônios a partir de estímulos luminosos. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em parceria com o Instituto Riken, do Japão, deram aos ratos lembranças ruins de um lugar e, depois, as transfiguraram em boas.

“A carga emocional de uma memória é altamente flexível”, afirma, no estudo, o professor  japonês Susumo Tonegawa, líder da pesquisa e vencedor do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1987.
É o que possivelmente aconteceria caso você fosse assaltado na rua mais querida da sua infância: aquela nostalgia saudável, em questão de segundos, pode se tornar um trauma. A boa nova, conclui a pesquisa, é que os sentimentos que acompanham as lembranças são passíveis de reconstrução – uma propriedade que já tem sido usada clinicamente para tratar fobias, estresses pós-traumáticos e outros comportamentos de inadaptação.

Técnica pode ser muito invasiva em humanos
Difícil, no entanto, é saber se essas rememorações artificiais – conduzidas por feixes de luz azul dentro do cérebro de um rato – são similares à memória humana.

“Não podemos perguntar ao rato o que está pensando”, lembrou o especialista em cognição Richard Morris, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, no mesmo artigo na Nature.

Com o olhar de fora, já que não participou da pesquisa, Morris afirma que a descoberta representa uma inovação na exploração dos mecanismos da memória – embora ache a optogenética muito invasiva em humanos.

Novidades vencem traumas
Pesquisa semelhante é realizada no Instituto do Cérebro da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Os neurocientistas Iván Izquierdo e Jociane Myskiw avaliam como a memória de medo pode ser abafada com a exposição a uma novidade, uma possível forma de extinguir um trauma.

Também em camundongos, eles descobriram que há um fluxo de proteínas entre as sinapses dos neurônios que processam as memórias de medo e de novidade, provando que elas interagem no hipocampo (estrutura onde se consolidam as lembranças relacionadas a lugares e contextos). Com isso, revelou-se que submeter o paciente a uma nova experiência – no mesmo contexto do trauma – pode ajudar a sanar uma lembrança ruim. É a chamada terapia de exposição.

– Suponha que você tenha medo de dirigir. Se você for submetido a simuladores de direção e for treinado por instrutores com quem simpatize mais, essa memória vai se ressignificando até o trauma sumir  – explica Jociane. Fonte: Zero Hora.

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