Pensou, não: teve certeza.
O pai o chamava ao quarto de hora em hora, no começo da madrugada.
Depois, já no meio da madrugada, o tempo entre uma chamada e outra encurtou para meia hora.
O pai não queria mais o cobertor, queria mudar de lado, queria ficar sentado, queria tomar água, queria o cobertor de novo e mudar de lado também, queria tirar a fralda, não estava na hora do café, não?
Entre uma chamada e outra, o pai se digladiava com seus inúmeros fantasmas, chamava a polícia, chamava o ladrão, dizia palavrões que nunca dissera ao longo da vida, homem educado que sempre foi.
O dia amanheceu.
Após tomar a primeira leva de comprimidos, ainda na cama, o pai lhe perguntou:
-- Dormiu bem esta noite?
***
O pai via fantasmas, conversava com fantasmas, indicava livros para os fantasmas, fazia planos com os fantasmas.
Era o filho, porém, quem vivia assombrado.
(24/10/2013)
Fonte: Blog de Orlando Silveira.
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