sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Cientistas descobrem o papel de 147 genes que haviam sido considerados inúteis

Nove anos depois de sequenciamento do genoma, o "DNA lixo" é redescoberto pela ciência

06/09/2012 | Nove anos após o anúncio da finalização do sequenciamento do genoma humano, surge uma notícia bombástica, quase tão perturbadora quanto: o "DNA lixo" — batizado assim por ter sido considerado sem função — ao contrário do que se pensava, desempenha um papel preponderante no funcionamento genético. Elas não criam proteínas como apenas 2% das 3,2 bilhões de letras que formam o DNA, mas dão ordens para que os genes façam isso.

Os primeiros resultados do Projeto Encode (que, em inglês, quer dizer Enciclopédia dos Elementos do DNA) foram publicados nesta semana em mais de 30 artigos em algumas das mais importantes publicações científicas, como a Nature, a Science, a Genetic Research e a Genome Biology. Ao todo, foram cinco anos de trabalho árduo, realizado por 442 cientistas de 31 laboratórios internacionais.      

— Trata-se de uma descoberta incrível. Costumamos utilizar esta parte do DNA para confirmar paternidade ou para identificar criminosos, por exemplo, mas não imaginávamos que ela tinha todas essas funções. Inauguramos uma nova era da genética — afirma uma das autoridades no assunto no país, o gaúcho Luiz Fernando Jobim, imunologista, especialista em imunogenética e biólogo molecular.

Os resultados indicam que mais de 80% do genoma humano têm algum tipo de função bioquímica operacional e são conectados por uma rede muito mais complexa do que se imaginava. Para cada gene de cada célula, existem milhares de "interruptores" específicos. No que se pensava ser o "lixo" do genoma, estão códigos que ajudam o DNA regulatório a comandar os genes certos. Um erro no processo pode levar ao desenvolvimento de doenças, o principal foco do projeto.

— O genoma é como um painel de interruptores em uma sala cheia de luz. Exceto pelo fato de que há dezenas de lâmpadas e quase 1 milhão de interruptores — compara Job Dekker, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts e um dos pesquisadores do projeto.

Enquanto no DNA funcional as letras se combinam para formar proteínas, o chamado DNA regulatório comanda essa ação. O trabalho da equipe de Dekker no Projeto Encode foi desenvolver uma nova tecnologia para criar um mapa detalhado dos "interruptores", localizados dentro de diferentes tipos de células.

— Nosso grupo também compilou um dicionário de instruções escritas no DNA regulatório. É como se fosse a linguagem de programação — afirma Dekker.

É esse maquinário que permite ao ser humano ser uma espécie biologicamente tão complexa com "apenas" 20 mil genes — bem menos do que uma espiga de milho ou um grão de arroz.

— O genoma humano é muito mais complexo do que imaginávamos — afirma a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP).

Para os cientistas, os resultados acrescentam uma nova camada de complexidade ao estudo do genoma humano e mostram que é preciso bem mais do que uma sequência de letras para entender como ele funciona — e que os genes são apenas parte de uma história que pode ser contada de diversas maneiras, dependendo de como o genoma é lido.

Esforço mundial e pesquisa integrada
Ewan Birney, um dos coordenadores do projeto, lembrou, no anúncio oficial que, sem o sistema de cooperação entre os centros de pesquisa mundiais (que envolveu mais de 400 cientistas de diversos países, não incluindo o Brasil), essas descobertas jamais seriam feitas.

— Percorremos um longo caminho e coletamos uma quantidade incrível de informações, ao integrar os diferentes tipos de dados que o Projeto Encode produziu. Isso foi feito em uma escala nunca antes alcançada na biologia. Esta integração de dados foi uma das chaves para o sucesso — afirmou.

John A. Stamatoyannopoulos, professor de genética da Universidade de Washington, está bastante animado com as perspectivas. Segundo ele — em notícia divulgada no site da universidade —, “os dados são fundamentais para a compreensão de como o corpo produz diferentes tipos de células e circuitos normais de genes são interrompidos em doenças. Agora, somos capazes de ler o genoma humano em um nível de detalhes sem precedentes. Pesquisadores de todo o mundo poderão usar esses recursos para entender melhor de que maneira os genes que estão estudando são controlados”.

PRESTE ATENÇÃO
Os dados do Projeto Encode abrem várias perspectivas de tratamento, apontando para novos alvos genéticos fora das regiões codificadoras e melhorando o entendimento de como o genoma funciona de uma forma geral. Uma das áreas médicas que mais ganhará com isto será a oncologia, na qual a relação entre genética e fisiologia se dá de forma mais acentuada. Fonte: Jornal Zero Hora.

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