terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Médicos alertam contra soluções milagrosas em tratamentos com células-tronco

As clínicas se anunciam. Basta fazer uma inscrição e pagar. A China é um dos lugares mais procurados para esse tipo de serviço, que existe em todos os continentes.

21/01/2013 - Na semana passada, o Jornal Nacional apresentou uma série de reportagens especiais sobre pesquisas brasileiras com células-tronco. Nesta segunda-feira (21), a repórter Sandra Passarinho traz um alerta dos cientistas.

Como qualquer casal, eles sonham com o futuro do filho. “Qual é o sonho de todo pai e mãe que têm um filho especial? Que ele evolua, pelo mínimo que seja”, diz o comerciante Fernando Channoschi.

Muitas famílias que lutam para melhorar a qualidade de vida de seus filhos vivem de pesquisar  esperanças na internet . E buscam fora do Brasil tratamentos com células-tronco em clínicas que vendem a possibilidade de cura.

As clínicas se anunciam. Basta fazer uma inscrição e pagar. A China é um dos lugares mais procurados para esse tipo de serviço, que existe em todos os continentes.

“Nenhum relato do que é anunciado nesse site aparece em revistas científicas internacionais, o que torna praticamente impossível para a comunidade científica validar a qualidade e a segurança do que é oferecido lá”, alerta Stevens Rehen, do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias.

Nathan, de 11 anos, tem paralisia cerebral. Fernando e a dona de casa Erika Cristina de Souza fizeram campanha pela internet para arrecadar dinheiro, e recolheram R$ 40 mil para que o filho pudesse fazer um transplante de células-tronco em Dusseldorf, na Alemanha, no ano passado. Meses depois, a clínica foi fechada pelo governo alemão. Uma criança morreu lá depois de uma injeção de células-tronco no cérebro.

A mãe se sentiu enganada logo depois que Nathan recebeu a aplicação. “Tinha acabado de colocar, e a pessoa começou a falar: ‘nossa, agora ele está abrindo, está fechando a mão’. Ele falou, ‘salvei imediatamente. Você viu, aplicou, ele sarou na hora’. E acaba iludindo a gente ali”, lembra Erika.
Os pioneiros em pesquisas fazem outro alerta: não há testes com células-tronco em humanos para todas as doenças, e os que existem devem ser de graça.

“Se um experimento clínico está sendo cobrado, ele já tem uma validade relativa. Porque, teoricamente, não era para estar sendo cobrado. O indivíduo pode doar, mas não pagar por um procedimento que ainda não é realidade”, explica o pesquisador Ricardo Ribeiro dos Santos.
As pesquisas feitas no Brasil são reconhecidas pela comunidade científica internacional e acompanham o trabalho feito em outros países. Os principais testes clínicos com células-tronco no país são para doenças autoimunes, como a diabetes, cardiovasculares, lesões da medula espinhal, dos ossos e articulações. E mais: para doenças do sistema nervoso, hepáticas e pulmonares.

Os cientistas se preparam para começar pesquisas para problemas renais e oculares. Ainda não há teste em humanos para Mal de Parkinson, o que já existe nos Estados Unidos. No Brasil, também não há aplicação clínica de células-tronco embrionárias, de embriões descartados em clínicas de fertilização. Os cientistas dizem que esse procedimento ainda não é seguro.

“A gente sabe que célula-tronco está começando. O trem já saiu da estação, mas não é para todas as doenças”, aponta o pesquisador.

De 2004 até hoje, o Ministério da Saúde investiu R$ 110 milhões em pesquisas com células-tronco.
“Acho que se a gente colocar uma meta ambiciosa de chegar em cinco anos a 2% do PIB, já vai ser uma transformação profunda. E chegar no padrão de países desenvolvidos, de 3% do PIB, acho que a gente já faz uma grande diferença”, avalia Carlos Gadelha, secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.

A família do garoto Nathan acredita que não basta esperar que a ciência resolva seus problemas. Fernando e Erika inventaram aparelhos que estimulam os movimentos e, ao mesmo tempo, divertem o garoto.

“Ele vai estar estimulando o pescoço, ele vai ficar em pé, vai estar estimulando as pernas, caminhar, os braços, se mexer”, lista o pai.

O que restou da experiência de buscar uma cura que ainda não existe?

“A gente não perdeu a esperança nas células-tronco. A gente perdeu a esperança em pessoas que tentam iludir a gente com sonhos que a gente tem”, completa o pai. Fonte: Globo G1.

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