terça-feira, 16 de julho de 2013

Sexo, sexualidade e Parkinson.

Vamos falar sobre a sexualidade na vida dos portadores de parkinson?
Se pensarmos em sexo como sendo apenas o ato sexual penetração/orgasmo, a abordagem do tema torna-se isenta de sentido. A questão é delicada, pois há várias possibilidades de abordar o tema, e variam conforme a cultura, educação recebida, personalidade e crenças de cada um.

O impacto da doença de parkinson (dp) na saúde sexual é ainda um tabu.

O esclarecimento de dúvidas afasta os estigmas e evita conflitos internos provenientes das instabilidades posturais e emocionais. Já a informação esclarecedora traz uma experiência positiva e saudável.

Fadiga associada com parkinson pode reduzir a libido. A lentidão do movimento, tremor, rigidez interferem nos aspectos práticos da vida amorosa.
O homem pode ter problemas em ter ou manter uma ereção ou não ser capaz de ejacular. Atraso no orgasmo e ejaculação são causas comuns de considerável frustração sexual. A mulher pode sentir secura vaginal. Atingir o orgasmo pode ser difícil. As mulheres com dp sentem uma alteração na qualidade do orgasmo. A tensão sexual não atinge um pico, mas vários pontos elevados, seguidos por um declínio repentino.

Outros problemas podem surgir, se o casal não fizer mudanças em sua rotina diária e comportamentos sexuais.

A disfunção sexual pode ser tratada medicamente. Alguns medicamentos podem estimular a ereção, enquanto medicamentos de estrogênio ou solúveis em água, lubrificantes pode aliviar a secura vaginal.

Uma relação sexual satisfatória revela muito mais do que a capacidade de ter ereções ou atingir orgasmos. A má qualidade do relacionamento de um casal pode contribuir, por si só, para a presença de disfunções sexuais.

Parceiros em que um deles tem dp podem apresentar diversos problemas sexuais. Contudo com diálogo claro, atenção e ajuda profissional é possível conseguir uma vida afetiva/sexual com muito prazer.

Estudos mostram que o sexo traz benefícios para a saúde, como por exemplo queima de calorias, diminuição dos riscos de infarto, relaxamento da musculatura e melhoria o humor.

Vários autores apontam a necessidade de intimidade e a expressão sexual como dimensões importantes da qualidade de vida das pessoas, e não é diferente com os portadores de dp. Uma vida sexual satisfatória é uma forma de se sentir “normal” quando todos os aspectos de vida diária estão se modificando.

Há mudanças normais das funções sexuais próprias do envelhecimento, como por exemplo: certa diminuição de resposta aos estímulos. Assim as preliminares são essenciais. Na minha opinião é na verdade a parte mais importante da relação sexual. As preliminares diminuem a inibição e aumentam o conforto emocional. O prazer não se restringe ao orgasmo, mas sim a toda troca de carinho que cada um dos parceiros pode dar ao outro. Percorrer o caminho para chegar até o objetivo esperado pode ser até mais prazeroso que atingi-lo. O ato sexual não pode ser resumido apenas na penetração, que é apenas uma das muitas formas de se chegar à satisfação desejada. Não pode haver pressa. O afeto, a contemplação, a partilha são fundamentais, onde os sentimentos são bem estabelecidos e há confiança mútua.

Mudar o foco, valorizar outros aspectos da relação pode trazer descobertas bem excitantes, do próprio corpo e do corpo do parceiro/a.

Os casais com dp vivenciam uma marcada redução nas expressões físicas e emocionais. A redução da frequência do toque íntimo tem um efeito negativo na autoestima e aumenta a tensão entre o casal. Inversamente, a restauração da intimidade melhora significativamente o relacionamento do casal.

Conversando, com alguns médicos e profissionais da saúde, a respeito das minhas vivências em relação à sexualidade e o parkinson, constatei a falta de interesse ou despreparo, o que dificulta ainda mais a orientação sobre o assunto. É comum que familiares e profissionais de saúde pensem que nessa situação o indivíduo não está sexualmente ativo.

Um neurologista que consultei há 4 anos, espantou-se quando eu relatei que aos 48 anos eu tinha um namorado e era sexualmente ativa. Existe preconceito e desinformação, primeiro ao pensar em quem escolheria iniciar uma relação em idade madura com um portador de doença limitante como é o parkinson, e segundo por não entender como o portador de dp possa mostrar-se atraente, sentir-se desejável e estar sexualmente ativo.
Mas como eu posso definir “sexualidade”? A “sexualidade” é um termo abrangente e eu não encontro definição única e precisa.

Não sou expert no assunto. As colocações feitas aqui são opiniões e vivências pessoais, expostas na tentativa de esclarecer algumas dúvidas e também busca ajudar outros portadores de dp a romper alguns tabus.

A noção de sexualidade, para mim, começa pelos cuidados com o próprio corpo, com autoestima, amor próprio. Somente depois é compartilhada com o outro através do sexo. É também uma energia motivadora do contato físico e maior intimidade, que procura encontrar prazer na descoberta das sensações, na expressão emocional, na atração por outras pessoas (de sexo oposto e/ou mesmo sexo).

Para que se tenha um relacionamento saudável é necessário superar as dificuldades do enfrentamento da doença, para manter uma relação de aceitação da própria sexualidade e das limitações decorrentes da dp.

Há um conceito ou preconceito que pessoas idosas ou com necessidades especiais não são fisicamente atraentes, que não mantêm interesses por sexo ou são sentem nenhum estímulo sexual, o que acaba gerando atitude negativa no que se refere ao sexo.

Se não houver ajuda de um profissional interessado e competente, um diálogo aberto, compreensão e comprometimento dos parceiros em descobrir juntos qual a melhor posição, as carícias mais satisfatórias, o que mais agrada ou desagrada, não haverá soluções que possam retirar os obstáculos que se apresentam ao longo do tempo.

Explorar e praticar diferentes posições mais confortáveis; encontrar novas soluções para estimulação física; adotar novos papéis sexuais de acordo com a habilidades de cada parceiro.

A prática de outros estímulos, a exemplo do uso “brinquedos sexuais”, fantasias, filmes eróticos ou sexo oral, pode ser extremamente agradável. Importante é saber o quanto os parceiros estão ou não comprometidos em explorar a sexualidade e aceitar as mudanças, certamente sempre com diálogo bem transparente e franco.

Experiência com rotinas diferentes, por exemplo, procurar fazer amor, quando os sintomas do parkinson são menos pronunciados, quando a rigidez muscular e os tremores são mais brandos, também traz maior proximidade aos parceiros.

O acordo e a unidade de ideias tornam legítima e prazerosa a relação. Eu não acredito no sexo pelo prazer físico, também não acredito que o orgasmo seja a finalidade do sexo. Uma relação sexual deve estar envolta em encantamento e admiração. A celulite nas coxas de uma mulher torna-se insignificante se confrntada com um abraço aconchegante, perfumado, cheio de chamego. A barriga mais avantajada de um homem não tem nenhuma importância diante de um olhar afetuoso e sedutoras carícias.

Não existe idade determinada para o término da sexualidade. O interesse e o desejo da capacidade de sentir prazer podem permanecer até o fim da vida. O que pode mudar é a forma de expressar esse desejo. As mudanças acontecem ao longo da vida de qualquer pessoa. Para portadores de dp as mudanças são mais evidentes e exige muita compreensão do parceiro/a. O segredo de um bom relacionamento e de sexo com qualidade na dp é saber adaptar-se com criatividade às transformações e instabilidades que vão ocorrendo.
A troca de informação é o melhor remédio para todos os tipos de problemas de relacionamento, com ou sem parkinson. Uma conversa transparente sobre as necessidades sexuais de cada um é extremamente favorável.

Se não for possível ao casal superar as dificuldades que vão surgindo com o tempo e agravamento da doença, torna-se importante buscar ajuda de um conselheiro formado em saúde sexual, para encaminhamento em qualquer tipo de dificuldade sexual, (neurologista, urologista ou ginecologista, ou fisioterapeuta).

Sexo bom e gostoso tem que ser temperado com muito amor, carinho e atenção!
Abraços, *TT.

 Lembrete: Converse abertamente com seu médico se você está preocupado/a com o estado de sua saúde, sexualidade, tratamento ou relação sexual e sobre as opções de tratamento para a depressão. Eu já passei por isso e creio plenamente que é possível superá-la.

3 comentários:

  1. Uma abordagem oportuna, sincera e inteligente, a Tetê esta sempre à frente nos colocando em cheque e mostrando como a coisa é na realidade.Precisamos acabar com os tabus, pecados inexistentes e ignorância do assunto motivado por erros educacionais da nossa sociedade.

    ResponderExcluir
  2. Meu marido tem parkinson e o médico dele falou que a falta de libido dele é por causa da idade, ele tem 62 anos, e que a culpa é minha, pq eu é que preciso criar fantasias e estimula- lo, agora não fazemos mais sexo, fiquei muito chateada com isso, tenho 56 anos.

    ResponderExcluir
  3. Mal de Parkinson sumiu a potensica xesual no homem

    ResponderExcluir

Observamos que muitos comentários são postados e não exibidos. Certifique-se que seu comentário foi postado com a alteração da expressão "Nenhum comentário" no rodapé. Antes de reenviar faça um refresh. Se ainda não postado (alterado o n.o), use o quadro MENSAGENS da coluna da direita. Grato.