quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Burocracia na importação impede avanço da ciência no Brasil

Espera pela liberação de encomendas pela Anvisa pode demorar 24 meses - muitas delas, perecíveis, acabam estragando antes de chegar ao cientista. Nesse processo, verba pública e estudos inteiros são comprometidos

17/12/2013 - EU NÃO AGUENTO MAIS! ANVISA, DEIXE EU FAZER MINHA PESQUISA!” escreve a professora de Genética Humana e chefe do Laboratório Nacional de Células Tronco Embrionárias da USP, Lygia da Veiga Pereira, em seu blog. O uso de Caps Lock não é por menos: a pesquisadora firmou parceria com o Harvard Stem Cell Institute, um dos maiores centros de estudos sobre células tronco do mundo. Através da ligação, o instituto enviou para a professora valiosas células que a auxiliariam no estudo do Mal de Parkinson. E, agora, o material delicado está preso na alfândega brasileira por motivos puramente burocráticos.

Importações do tipo, vindas dos EUA, são feitas pela Federal Express (conhecida como FedEx), que envia para o instituto recipiente uma série de documentos que precisam ser preenchidos. No caso das células, a documentação foi entregue para a Anvisa e o órgão de vigilância sanitária declarou que iria avaliar o caso em até 4 dias úteis, a partir do dia 6 de dezembro. Enquanto isso, o material perecível, que precisa ser mantido congelado, está na alfândega - e não há notícias sobre quando será entregue. “Independente de ser célula tronco, podia ser um anticorpo, qualquer outro material que a gente recebe. O que importa é que não sei quando esse material vai chegar aqui, em que condições” contou a professora, em entrevista para a GALILEU.

O drama dessas células, detalhado aqui, já foi vivido por Lygia em ocasiões anteriores e, segundo aponta uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, faz parte do cotidiano dos pesquisadores brasileiros. Enquanto o estudo aponta que  99% dos cientistas do país dependem de material importado para realizar seus trabalhos, 76% afirmam que já foram prejudicados pela burocracia na alfândega, causada pela Anvisa. Mesmo com programas criados pelo governo para agilizar o processo, como o Importa Fácil, 91% dos cientistas entrevistados afirmou não sentir diferença com a sua atuação.

Um problema antigo
Esse cenário prejudica a produção científica no País há 50 anos, de acordo com um dos autores da pesquisa, o professor do Instituto de Ciências Biométricas da UFRJ, Stevens Rehn. Ele afirma que começou a se interessar pelo assunto quando trabalhou em um laboratório nos EUA - lá, o material que ele solicitava para suas pesquisas chegava com uma rapidez impressionante, muitas vezes no dia seguinte ao pedido. “No Brasil as coisas demoram, em média, de 90 a 120 dias para chegar. Por aqui, já perdi células, reagentes, equipamento. E não estou erguendo uma bandeira em causa própria, isso afeta toda a comunidade científica do país”, explica. (segue...) Fonte: Revista Galileu.
Com o perdão da palavra: se dependermos do Brasil, estamos phodidos...

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