domingo, 16 de fevereiro de 2014

Depoimento de Judson Borges Rosa

por Judson Rosa, no facebook.

Opções para esta história
Explorando as profundezas do cérebro.

Deitado na maca no Hospital das Clínicas da USP, voltando da anestesia geral, porque havia sido operado para a troca do neuroestimulador, com o gerador desligado, notei, realmente, como havia evoluído a minha doença de parkinson. Sem o efeito da medicação, estava com muita rigidez, contratura muscular. Relembrei a primeira vez que estive naquele hospital para fazer a cirurgia de DBS. Percebi então, como a minha vida havia mudado para que essa modalidade de tratamento desse certo.

Notei que não era simplesmente colocar o marca passo e ligar a sua carga elétrica em direção ao cérebro, mas a associação deste aparelho às mudanças de hábitos e de estilo de vida.

Primeiro, deve-se criar uma rotina. Rotina de medicação, alimentação, sono e comportamento. Com o neuroestimulador ativado, muda o modo de tomar o medicamento, e sente-se o efeito mais claramente no corpo. O objetivo é obter a dose no intervalo de tempo entre as tomadas que não provoque discinesia nem bradiscinesia. Comecei com o prolopa 250\50 e após várias tentativas, a dosagem ideal foi de 3\8 de 2\2 horas. Mas ao final das duas horas o efeito da medicação acabava rapidamente. Esse problema foi resolvido introduzindo o Sifrol ER.

Existe também a interferência dos alimentos ricos em proteína que reduzem o efeito do remédio. Notei que após o almoço tinha que aumentar um pouco a dose do prolopa.

Além da mudança alimentar, o sono também é importante. Digo sempre: o dia do parkinsoniano começa na noite anterior. Dormir bem resulta em um bom dia.

Deixei para o final o que considero a mais importante mudança: a comportamental. Quando você recebe o neuroestimulador, recebe também uma nova oportunidade de viver com qualidade e isso não pode ser desprezado. Eu, por exemplo, com esta nova etapa da vida, fiz mudanças que foram fundamentais para extrair o máximo de benefício que este tipo de tratamento proporciona. Quando o aparelho é ligado, a mudança no corpo é tão grande que a gente fica meio eufórico, e é aí que está a diferença entre quem quer mudar com o aparelho, e quem quer que o aparelho o mude. A decisão tomada é que influenciará no sucesso ou não da terapia. Mas afinal, o que são essas mudanças comportamentais tão importantes quanto a neuroestimulação?

Como um gigante adormecido, o corpo acorda quando o aparelho é ligado. Torna-se mais independente, mais ágil, e tarefas que antes levavam horas para serem feitas, agora em questão de minutos são executadas. É fantástico como esse ganho de autonomia nos devolve a autoestima perdida com a evolução da doença.
Evitar o estresse é um meio eficaz de sentir-se melhor. Isto não é valido apenas para a pessoa com a doença, mas para qualquer indivíduo. Levar a vida com tranquilidade, mas com responsabilidade, é a frase que mais reflete essa conduta.

Tive que tomar decisões que mudaram a minha vida e a dos que me cercavam para sempre. Eu me amo e eu sou a prioridade. Com esse pensamento em mente consegui a regulagem do aparelho e a melhora do meu estado geral. Reaproximei-me da minha família, da qual havia afastado, e vi como é importante estar ao lado dos que me amam. Encontrei uma nova companheira que me apoia e me transmite serenidade e amor.

Como eu já havia dito, é preciso que haja uma filosofia de vida fundamentada na disciplina e persistência. Os exercícios físicos são tão importantes quanto o remédio, e devem ser prazerosos ao serem executados. Andar de bicicleta com um grupo de pessoas é o que me dá mais prazer. Melhora o condicionamento físico, gera sensação de liberdade, socialização e espírito de companheirismo. Junto a pratica de outros exercícios físicos, adquire-se independência e maior agilidade para executar as tarefas do dia a dia.

Outra mudança significativa foi quando assumi a doença e procurei me socializar. O Parkinson é uma patologia antissocial, pois as dificuldades de andar, de caminhar e de falar, vão aos poucos nos limitando. Hoje faço parte do Rotary Club de Ipatinga, associação que me acolheu com carinho que foi o principal apoio na promoção de um evento anual denominado “Run for Parkinson”. O objetivo deste evento é chamar a atenção para a busca da cura da doença. Na minha cidade foi realizado pelo Grupo de Apoio aos Parkinsonianos- GRAP, do qual sou Coordenador.

Não sou eu somente o responsável por este sucesso, mas um grupo de pessoas que está sempre ao meu lado, e vibra a cada vitória conquistada. Agradeço ao neurocirurgião que me operou, Dr. Erick Fonoff. Desejo que suas mãos continuem abençoadas. A Dra. Rachael Brant, neurologista, que com sua sensibilidade e eficiência regula o meu neuroestimulador. Aos meus familiares e a minha noiva que sempre estão juntos a mim. A Raquel, minha educadora física, que também colabora para a minha recuperação. Ao Rotary Club de Ipatinga que me acolheu e me mostrou que a solidariedade ganha força quando se está num grupo. Ao GRAP Ipatinga, que me dá a oportunidade de dividir as bênçãos recebidas. Agradeço a Deus que me deu inteligência e sabedoria para aproveitar ao máximo essa terapia de DBS.

Judson Borges Rosa
8 de julho de 2013

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