sábado, 20 de setembro de 2014

Após autorização, criança de Uberaba trata epilepsia com canabidiol

Pais comemoram resultados após uso da substância à base de maconha.
Antes de conseguirem liberação, pais e amigos fizeram campanha na web.

19/09/2014 - Ver Lorenzo Vaz segurar a bola, equilibrá-la em cima do aro, interagir com outras pessoas e se alimentar praticamente sozinho é motivo de orgulho para o casal de enfermeiros Luciana Ferreira dos Santos Vaz e Valdir Francisco Vaz. Há cerca de 15 dias eles conseguiram a autorização da importação do canabidiol (CBD), componente extraído da maconha, para ao tratamento do filho de nove anos, que sofre de Epilepsia de Difícil Controle. Eles comemoram os resultados após o uso da substância, que ainda é proibida no Brasil.

As crises de epilepsia começaram quando Lorenzo tinha quatro anos. A doença responde mal a medicamentos e causa muitas convulsões. Segundo Luciana, nos últimos anos experimentou várias opções de tratamento. "O Lorenzo ainda utiliza um aparelho, que é o estimulador do nervo vago, instalado por meio de uma microcirurgia. Este médoto é bastante utilizado, não sanou, mas melhorou muito a condição e qualidade de vida do Lorenzo. Posterirormente partimos para a dieta cetogênica por mais de um ano, mas também não melhorou. Junto com a dieta, também iniciamos um tratamento com ômega 3. Agora vamos retirar a dieta, porque ela não resolveu", disse.

Em pesquisas pela internet, incluindo contato com famílias que enfrentavam o mesmo problema, Valdir descobriu a opção de um tratamento à base de canabidiol. "Conseguimos trazer os primeiros medicamentos, que eram a tintura do canabidiol, muito fraca em relação a dosagem que deveríamos dar. Hoje conseguimos importar o extrato do CBD com a autorização", afirmou.

Os pais e amigos começaram uma campanha na internet. Eles reuniram mais de 20 mil apoiadores para tentar convencer a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da necessidade do medicamento. Mesmo sem a liberação para importar o produto, tiveram acesso ao composto. Desde julho, incluíram o CBD na rotina de medicamentos de Lorenzo, que é misturado ao óleo de gergelim.

A terapeuta ocupacional que acompanha a criança garante que houve melhoras. "Conseguimos várias evoluções no que tange os aspectos cognitivos como atenção, concentração, memória, capacidade de respostas aos comandos simples e de média complexidade",  completou Kátia Ariana Borges.

Mesmo conseguindo o produto de forma ilegal, a família continuou tentando a aprovação da Anvisa. Agora finalmente fazem questão de mostrar com orgulho o documento que garante a liberação, que só veio depois de um processo burocrático.

"Essa autorização foi em estudo conjunto com o médico. Elaboramos cada passo que a Anvisa solicitou. É um relatório médico completo, que fala da história da doença do Lorenzo, o tipo de crise, há quanto tempo, as alternativas de tratamento e que o canabidiol seria o essencial para ele em termos de qualidade de vida. Foi importante frisar que que o CBD é essencial, senão, não teríamos conseguidos a autorização", relembrou Valdir.

O procedimento é praticamente o mesmo para qualquer brasileiro que queira utilizar a substância em algum tratamento, pois de modo geral o canabidiol continua proibido no país, apesar de a discussão em torno dos benefícios não ser nova. Há mais de 30 anos estudiosos brasileiros tentam comprovar a eficácia, mas mesmo assim a Anvisa analisa caso a caso os pedidos de importação. Do começo do ano até agora, menos de 40 foram autorizados e cerca de 15 continuam em análise.

Boa parte do CBD é utilizado em tratamento de doenças neurológicas. Alguns estudos comprovam a melhora em pacientes com esquizofrenia, Parkinson, fobia social e transtorno do sono, por exemplo. Mas o neurologista Emerson Milhorin Oliveira alerta que, apesar de o canadibiol ser benéfico, o uso indiscriminado da maconha é bastante prejudicial.

"Ela tem dois componentes, os quais chamados de psicoativos - o Tetraidrocanabinol (THC), que é um medicamento que causa alucinações, que pode deflagrar psicoses, pode levar à atrofia das áreas cerebrais responsáveis pela memória. Porém, existe um outro componente, que é o canabidiol, que não se relaciona com esses efeitos nocivos", explicou.

Ainda segundo ele, a discussão em torno da liberação da substância medicinal já está bastante avançada no país, mas não acredita que tenha um desfecho rápido. "Normalmente estes processos são lentos. Nos próximos meses e no próximo ano podemos ter notícias favoráveis, que venham para somar. O canabidiol não será uma solução, mas será uma contribuição", finalizou. Fonte: Globo G1.

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