sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Depoimento

Reprodução de email recebido:

Aos srs que mantém este blog.

Através deste email quero dar meu testemunho anônimo relativo ao polêmico uso da maconha. Se quiserem podem divulgar, somente peço sigilo do meu e-mail, pois não quero ser submetido a constrangimentos. Minha intenção é de ajudar as pessoas que sofrem como eu, na luta contra este inimigo comum. O Parkinson.

A maconha produz vários efeitos em quem a usa. Vou falar da experiência de fumá-la, na condição de Parkinsoniano que sou, já ao longo de mais de 10 anos.

Tomei e tomo ainda vários remédios. Já usei ou uso Niar,  Prolopa, Stalevo, Comtam, Akineton, Mantidam, Artane, Sifrol, Trivastal e outros que não me lembro.

Quem fez uso destas drogas testemunhará dizendo certamente do mal que lhe fizeram ou fazem. Independente de terem que continuar tomando-as. Afinal a vida, bem ou mal, deve prosseguir.

Sempre fui contra as drogas, por vezes apenas por saber que faziam mal à saúde, outras apenas porque eram ilegais. Por um simples moralismo barato. Sem maiores questionamentos, afinal nunca drogas me fizeram falta ou tive necessidade delas.

Pois bem, o meu parkinson começou a se agravar, como numa doença progressiva é esperado. Na medida em que eu piorava, a saúde ia a pique, aumentava a minha preocupação. Afinal, aonde isto iria parar?

Chegou ao ponto de querer me submeter a experimentos científicos,  mesmo que me matasse, pois minha vida não valia mais ser vivida. Felizmente, digo entre aspas, vivemos num país atrasado que não tem pesquisa. Por isto não me submeti a testes,  e estou  aqui vivo para testemunhar. Teria que viajar e morar no exterior. E isto não é ou era possível, no mínimo por razões econômicas.

A piora na saúde foi aumentando de tamanho até que fui levado, finalmente, a rever meus conceitos sobre moral, sobre o que é legal, sobre o que é ilegal, e principalmente baseado nas leis e nos políticos que nós temos. Me indaguei: - quem são esses, na grande maioria, canalhas, os picaretas, para legislar? Para dizer o que eu posso ou não posso fazer da minha vida? Ora, os merdas dirigindo minha vida? Não! Isso não. Sou maior e vacinado, não viciado. Talvez viciado em Prolopa!?

Lendo e me informando sobre a doença vi informações afirmando que maconha "faria" bem a algumas pessoas que tem parkinson. Aliviaria muitos dos sintomas dos remédios.

Todos os médicos consultados ou perguntados sobre o quê achavam do tratamento ou terapia com a maconha para Parkinson,  saiam pela tangente, desconversavam. Diziam saber do Sativex, baseado em extratos da maconha, que não teria no Brasil,  além de estudos sobre o canabidiol,  que seria bom para tirar a dor em muitos casos do tipo.

Todos, sem exceção, diziam que não existia nenhum estudo científico que comprovasse a afirmação e nenhum disse, sugeriu ou recomendou que experimentasse, pelo contrário, desestimulavam. E mesmo que isso acontecesse, eu não poderia dizer aqui, pois as pessoas com as quais convivo, sabem com quem me trato e o identificariam, e isto seria ruim para a imagem dele obviamente.

Estes sintomas todos nós sabemos são muito ruins, mas restava a falta de coragem para vencer a inércia e o medo do desconhecido, além dos tabus, do meu moralismo e do medo da ilegalidade para fumar maconha. Como iria encarar os meus filhos? Eu era, e sou contra drogas.

Depois disso vem a necessidade de lidar com o tráfico e seu entorno, o que é bem complicado, além de o alimentarmos com o consumo da droga o um sub-mundo relacionado à violência, armas e outras atrocidades.

Aliás por esta razão, hoje sou partidário do cultivo próprio, caseiro, além de ser a favor da maconha medicinal.

Saí da minha inércia e contatei um ex colega de universidade que se sabia, fumava a “erva”. Contei e expliquei a ele a situação, e entendo-a, me deu um pouquinho para experimentar. Foi o suficiente para fazer dois cigarrinhos, que deram um trabalhão para fazer, e que duraram mais ou menos uma semana, consumidos em tragadas.

Depois disso meu irmão, que está no exterior estudando, me deu de presente uma maquininha de enrolar cigarros com um papel que já vem com cola, basta molhar com a língua, que facilita e recomendo. A sensação de leveza depois de fumar foi muito boa.

Confesso que no início eu sofri, até por medo, pois fumava um pouco e parava, até assumir a bronca e comprar erva. |Contatos aqui e ali, e consegui um sujeito que vendia, um “vapor” ou coisa assim. Continuava com o Prolopa & Cia e sofria com os efeitos colaterais.

Mas um dia por acaso, vi, penso ter sido no youtube, um vídeo de uma TV americana, de um estado que autorizou o uso da maconha medicinal, no qual um sujeito, de origem hispânica, dava uma entrevista dizendo que fumava maconha todos os dias para vencer o Parkinson.

Com isto pensei: - pôxa, o sujeito fuma todos os dias, e dizia para minha surpresa de brasileiro, na televisão americana, com a maior “cara lavada”, cara de pau, sem medo. Com isto fui levado a perder o medo, afinal eu tinha uma razão para experimentar. Passei a fumar assiduamente, diariamente um cigarro, e ao cabo de um mês, acho que deu tempo de acumular os “tóxicos” em meu corpo, e passei quase a dispensar o Prolopa. Digo quase, por que reduzi para 1 Prolopa 250 mg/dia, divididos em 4 quartos e em alguns dias só ¼.

Fui perdendo gradualmente o medo do escuro de me viciar talvez. Talvez o maior medo da minha vida, e talvez até por isto sempre me mantive longe de drogas em geral, fossem legais e ilegais.

Os efeitos negativos da maconha sabidos são basicamente os pequenos lapsos de memória, e do efeito alucinógeno, que penso, era o meu maior medo. Este seria uma pequena "vertigem" se assim pode ser definida, uma vontade de comer doces depois de passado o efeito. E dos danos aos pulmões. Estes eu desprezaria, pois um cigarro por dia de maconha está sendo mais do que suficiente.

Os efeitos positivos, quando ainda temia o tratamento no seu início, foram os sabidos alívio da rigidez, dos tremores, da dor, e fundamentalmente, passei a sentir uma “leveza” corporal e mental, que atribuo ao THC, o componente que causa o efeito alucinógeno. Este efeitos eu senti, numa força de expressão, como "um rejuvenescimento cerebral".

O uso da maconha após uso contínuo, diário, por cerca de um mês, muitas vezes me leva a não usar drogas, as verdadeiras drogas, que relacionei acima. O Prolopa estou quase abolindo da minha vida.

RESULTADO: Fumei! Só posso dizer, no mínimo, hoje, que estou rindo muito dos meus medos. E afinal entre os efeitos do Prolopa e o da maconha, prefiro os mais leves, por certo os da maconha!
Parkinson? Por vezes esqueço que tenho. O diagnóstico tenho. Com este depoimento quero, não fazer apologia ao uso da maconha, e sim indicá-la a quem tem Parkinson. Que pense a respeito. Pode ser que funcione bem com você, pode ser que não funcione. Dependerá do seu organismo. Comece bem devagar.

São Paulo, setembro de 2014.
ass um parkinsoniano

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