quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Futuros profissionais de saúde: os conselheiros de células-tronco

por Alysson Muotri
Quinta-feira, 29/01/2015 - Na ultima década tivemos a possibilidade de testemunhar algo notável na medicina: a ciência das células-tronco migrou dos laboratórios para a clínica. Hoje, estimo que existam centenas de ensaios clínicos com células-tronco acontecendo para uma série de doenças humanas tidas como incuráveis. Isso se traduz em milhares de pacientes e indivíduos controle que poderiam ser selecionados a participar desses estudos. Mas nem todo mundo sabe disso. E mesmo entre os que sabem, existe um receio em participar, muitas vezes por pura falta de informação.

Esse movimento de migração dos laboratórios para os hospitais tem avançado tão rapidamente que já se cogita a necessidade de profissionais treinados, que possam explicar de forma objetiva, os riscos e benefícios dos tratamentos com células-tronco para eventuais participantes e seus familiares.

Esses “experts” atuariam como “conselheiros de células-tronco” e fariam a ponte entre cientistas, médicos e pacientes. Os conselheiros teriam uma formação essencial em biologia das células-tronco, tendo cursado disciplinas relacionadas a ética, legislação e implicações sociais dessa tecnologia. Como os ensaios clínicos acontecem em diversos lugares do mundo, o conselheiro estaria atento a como essas disciplinas variam em determinados países.

Ao meu ver, entre as principais atividades dessa nova categoria de profissionais da saúde, estaria a responsabilidade de auxiliar a equipe médica a encontrar voluntários (e vice-versa), explicar o andamento e implicações esperadas dos ensaios clínicos, além de desmistificar clínicas fraudulentas. Como resultado, espera-se que o profissional traga vantagens a indivíduos interessados em ensaios clínicos, comunicando informações específicas, protegendo o paciente do turismo de células-tronco e auxiliando no entendimento dos formulários requisitados nesse tipo de experimentação.

Aconselhamento genético
Acho que esse modelo poderia ser inspirado no aconselhamento genético, prática já existente na medicina por diversas décadas. Conselheiros genéticos surgiram dos avanços em genética médica e são um exemplo atual de como podem auxiliar familiares a entenderem doenças genéticas e apontar possíveis tratamentos especializados, trazendo maior autonomia para os pacientes.

Com a expectativa de aumento nos ensaios clínicos num futuro próximo, vejo o momento ideal para se preparar esse tipo de profissional através de um programa de treinamento especializado em células-tronco. Uma iniciativa semelhante a essa já está sendo discutida pelo CIRM (California Institute for Regenerative Medicine) e muito provavelmente será seguida por agências de outros países.

Seria interessante que as autoridades brasileiras em células-tronco começassem a se posicionar sobre o assunto, seguindo uma tendência mundial, mas dirigindo um currículo que atenda as necessidades da saúde brasileira. Fonte: Globo G1.

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